“Quando falamos sobre nós próprios, sobre os outros ou
simplesmente sobre coisas, o que pretendemos é – poderíamos dizer – nos revelar
através das nossas palavras: queremos dar a conhecer o que pensamos e sentimos.
Permitimos que os outros lancem um olhar para dentro da nossa alma. (…)
Compreendido dessa forma, somos os diretores soberanos, os dramaturgos
autônomos, no que diz respeito à abertura da nossa interioridade. Mas, e se
isso estiver completamente errado? Na verdade, nós não apenas nos revelamos com
as nossas palavras, nós também nos traímos. Acabamos por revelar muito mais do
que gostaríamos e, às vezes, acontece precisamente o contrário. E os outros
podem interpretar as nossas palavras como sintomas de algo que nós próprios
talvez nem conhecemos. Como sintomas da doença de sermos nós mesmos. Pode ser
divertido observarmos os outros dessa maneira, pode nos tornar mais tolerantes,
mas também pode significar munição. E se, no instante em que começamos a falar,
lembramos de que os outros também agem assim conosco, então a palavra pode
ficar entalada na garganta, e o susto pode nos emudecer para sempre.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário